Existem pessoas que lidam muito bem com a pressão, são mais proativas, ágeis e até utilizam a tensão como um estímulo para atingir seus objetivos. Em um cenário competitivo, como uma prova de Mountain Bike, é necessário estar conectado a todos os sentidos para não ceder às influencias do meio e da autocrítica no esporte.
Dentre os diversos benefícios do ciclismo, o combate à depressão, ansiedade, a melhora do raciocínio, aumento da autopercepção, do humor subjetivo e da autoestima, estão entre os menos conhecidos. Trabalhando com psicologia esportiva há 26 anos, a psicóloga do Comitê Olímpico Brasileiro, Alessandra Dutra, revela que é comum o estado emocional do atleta sofrer alterações devido a pressões internas e externas, causando queda em seu desempenho com a falta de conexão entre os comandos cognitivos emocional e motor.
Foi o que já aconteceu com Letícia Cândido. Praticante do MTB profissional desde 2011, a ciclista já buscou ajuda profissional para lidar com dificuldades com o pedal. “Por diversas vezes me senti pressionada em competições. Na maioria das vezes foi por querer mostrar resultados e não entender o meu processo de evolução. Quando percebi que não estava conseguindo me organizar pessoalmente e profissionalmente, era porque tinha algo errado e precisava de ajuda, pois não sabia reconhecer este erro. Isto fez com que meu rendimento fosse caindo, surgiu medo ao ultrapassar partes técnicas, ou medo de entrar em trilhas sozinhas” confessa.
O Temor
Emocionalmente falando, a adrenalina nos leva a uma sensação de euforia que estimula muitos atletas nas competições, mas seu excesso pode levar ao oposto disso. A ansiedade exagerada pode até paralisar o ciclista, diminuindo sua percepção e capacidade de raciocínio. Para Alessandra o motivo disso pode estar relacionado à autocrítica e sensibilidade à comparações e aprovações no momento da competição. “O maior ponto de tensão do atleta é o medo da frustração. Medo de planejar, sonhar com o objetivo e não alcançar esta meta. Não é nem a derrota, é a frustração de não conseguir dar conta de uma meta estabelecida”, explica a psicóloga.
Não só o estresse diante de uma prova leva ao medo. Outro receio recorrente do ciclista são os acidentes, como relata Letícia. “Minha maior preocupação é cair e me machucar feio. Acabo sendo cautelosa em alguns momentos para evitar uma queda desnecessária. O Mountain Bike é meu trabalho, de onde tiro meu sustento, conquistando o que tenho hoje. Caso me machuque me pergunto: de como conseguirei pagar minhas contas e despesas?!”, alega.
Pressão e Gênero
As categorias masculina e feminina dentro do Mountain Bike evoluem para um cenário em que as divergências físicas não são tão díspares. De acordo com Alessandra, a questão histórica social entra como fator que pode intimidar o psicológico das atletas, sofrendo um conjunto de pressões ligadas à auto pressão, pressão do esporte e pressão do gênero. Já Letícia, que foi líder invicta do ranking brasileiro em 2018, acredita que o Mountain Bike feminino sofre menos pressão, pois é uma categoria em que o numero de adversários só começou a crescer nos últimos dois anos, o que dificulta oportunidades de elevar o nível das disputas dentro do Brasil.
Como lidar com a Pressão?
De acordo com a psicóloga do Comitê olímpico, hoje em dia o acompanhamento psicológico, além da tático e físico, faz parte da tríade que globaliza a preparação física de um atleta, apontando um indicador de performance importante que traz resultados efetivos com a preparação emocional. “Cada pessoa possui uma peculiaridade que dá condições mais efetivas de performance, é aí que entra a psicologia que ativa os recursos mentais”, diz Alessandra.
A psicóloga ainda aconselha que uma boa analise ainda é o melhor caminho para uma boa preparação mental, no entanto dá dicas valiosas para os iniciantes e profissionais:
– Tenha uma rotina competitiva. Esteja comprometido com sua rotina de trabalho para se sentir confiante neste período, estabelecendo um ritual de concentração, desempenho e auto regulação que venha ao encontro de suas necessidades como atleta.
– Entenda que a competição não é uma comparação, é uma “auto superação”. Aprender a estar no aqui e agora e praticar o auto diálogo é uma técnica que pode dar conta da ansiedade e estresse, além de criar energia motivacional durante a competição.
– Compreenda seus indicadores de auto regulação, antes e pós competição. Um exemplo é a respiração. Aprender a respirar e trazer pensamentos que corroboram com ela ajuda o atleta a identificar os padrões ansiosos, ou o próprio padrão tenso e começar a se auto controlar. (Lembrando que cada pessoa tem uma característica e necessidade diferente).
– Meditação e técnicas de mindfuless, quando praticadas corretamente, podem trazer resultados bem positivos.
Com todas essas dicas é possível se jogar na trilha com o pensamento leve e disputar aquela prova com a adrenalina extasiante em busca da vitória. Mas lembrem-se, se a tensão atrapalhar, procure um profissional qualificado.
Fonte: http://www.praquempedala.com.br/
DICAS PARA CICLISTAS AVANÇADOS: PERÍODO PREPARATÓRIO – Parte 2