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Bicicletas tem papel crucial na resiliência das cidades durante crise da Covid-19.

Com o mundo buscando impedir a propagação da pandemia da Covid-19, o número de pessoas sob ordens de bloqueio total ou parcial chegou a 3,9 bilhões neste mês. Cidades reduziram operações de transporte público devido ao declínio no número de passageiros e às preocupações com a saúde. Embora sejam medidas fundamentais para impedir a propagação da doença, elas apresentam desafios para muitas pessoas que ainda precisam se deslocar nas cidades para tarefas indispensáveis, como comprar comida ou cuidar de um ente querido. Além disso, a mobilidade para trabalhadores essenciais, como os profissionais de saúde, é mais importante do que nunca.

Algumas evidências sugerem que muitas pessoas estão recorrendo à bicicleta como uma opção resiliente e confiável para preencher a lacuna. Muitas redes de ciclovias urbanas tiveram aumento no tráfego, em países como China, Alemanha, Irlanda, Reino Unido e Estados Unidos. Alguns governos estão respondendo ao aumento da demanda abrindo ciclovias de emergência e dando aos trabalhadores essenciais acesso a bicicletas de frotas compartilhadas.

Na Filadélfia, o número de ciclistas aumentou mais de 150% durante o surto de Covid-19.


Neste momento em que os líderes municipais estão repensando muitas suposições do passado, essa tendência é uma oportunidade única de abraçar as bicicletas como parte integrante dos sistemas de transporte urbano – não apenas como acessório. As cidades precisam de uma mobilidade mais resiliente e justa, não apenas para enfrentar a crise atual, mas para se prepararem para futuras crises.

Em meio à crise de Covid-19, a bicicleta surge como uma forma resiliente de permanecer conectado


Durante o lockdown de dois meses em Wuhan, na China, o marco zero do surto de Covid-19, voluntários usaram bicicletas para entregar artigos básicos a quem estava preso em casa. Algumas empresas de compartilhamento de bicicletas aumentaram os esforços de limpeza e tornaram seus serviços gratuitos para permitir o acesso a profissionais da saúde e pessoas com necessidades urgentes. De 23 de janeiro a 12 de março, a Meituan Bikeshare (empresa anteriormente conhecida como Mobike) realizou cerca de 2,3 milhões de viagens em Wuhan, de acordo com coleta de dados própria, o que representaria mais da metade de todas as viagens que não ocorreram a pé na cidade durante a epidemia. No total, 286 mil pessoas utilizaram o serviço e percorreram mais de 3,2 milhões de quilômetros, o equivalente a 81 voltas na linha do Equador. Ao mesmo tempo, a distância diária média para uma única viagem aumentou 10%, mostrando um aumento no uso de bicicletas para deslocamentos mais longos.

Tendências similares são evidentes em outras cidades do mundo. O sistema público de compartilhamento de bicicletas da cidade de Nova York, o Citi Bike, registrou aumento de 67% na demanda no início de março em comparação com o mesmo período do ano passado. Chicago e Filadélfia viram o número de passageiros em seus programas de compartilhamento de bicicletas quase dobrar em março. Uma das principais trilhas de bicicleta da Filadélfia teve um aumento de 470% no tráfego. Londres também emitiu orientações especiais para os novos ciclistas e as lojas de bicicletas de Dublin viram o movimento explodir antes dos bloqueios fecharem o comércio e proibir deslocamentos não essenciais.

Nova infraestrutura para suportar o aumento da demanda


lgumas cidades estão expandindo temporariamente ou permanentemente a infraestrutura cicloviária em resposta à Covid-19. Bogotá experimentou abrir durante toda a semana a rede de 35 quilômetros de ciclovias em ruas normalmente fechadas para carros apenas aos domingos. Em um projeto piloto realizado com a New Urban Mobility Alliance (NUMO), o município e um operador privado de bicicleta também estão emprestando bicicletas elétricas para profissionais de saúde.



A Filadélfia respondeu a uma petição pública para criar mais espaço para ciclistas e pedestres se deslocarem em segurança fechando 7 quilômetros de uma via para veículos motorizados. A Cidade do México apresentou plano para fazer 128 quilômetros de infraestrutura temporária para bicicletas, com a intenção de reduzir os riscos no transporte público e facilitar a mobilidade na megalópole de mais de 21 milhões de pessoas. Berlim recentemente implementou uma ciclovia temporária de 1,6 quilômetro ao longo de uma importante avenida e tem planos de expandir a infraestrutura temporária, assim como outras 133 cidades alemãs. Oakland, Minneapolis, Denver, Louisville, Vancouver e Calgary implementaram medidas semelhantes. A cidade de Nova York comprometeu-se a adicionar cerca de 1,6 km de ciclovias temporárias protegidas em segmentos de Manhattan e do Brooklyn e testar o fechamento de ruas para carros.



Reconstruir melhor

A bicicleta oferece uma alternativa de emergência para muitas cidades durante este momento crítico. Mas é também um modo de transporte resiliente que pode continuar a prover benefícios valiosos para as cidades no futuro – benefícios que vão além da mobilidade.



1. Melhor acessibilidade para bikes pode ajudar na recuperação econômica após a Covid-19


O impacto da crise do coronavírus na economia global já é severo e a expectativa é que piore. Muitos governos têm planejado projetos massivos de infraestrutura que podem gerar empregos e atividade econômica. Há motivos importantes – ambientais, de saúde e econômicos – para se evitar projetos e infraestruturas que possam causar mais queima de combustíveis fósseis. Investir em infraestrutura para bicicletas – de ciclovias a paraciclos e programas de compartilhamento de bikes – é o tipo de investimento “ganha-ganha” que pode ajudar economias a se recuperarem enquanto enfrentam as mudanças climáticas, reduzem a poluição do ar e protegem a saúde humana.

Cada quilômetro percorrido evita 250 gramas de emissões de CO2, tornando as bicicletas um elemento essencial para o transporte de baixo carbono. Estima-se que, coletivamente, os ciclistas de Copenhague evitem 20 mil toneladas de emissões de carbono anualmente, o equivalente a 80 milhões de quilômetros percorridos por veículos particulares de passageiros.

À medida que o distanciamento social diminuir e as pessoas puderem voltar a frequentar lojas, cafés e restaurantes, o uso da bicicleta também pode contribuir com estímulo comprovado à atividade econômica nas principais ruas e áreas comerciais. Estudos demonstram que ciclistas gastam, em média, três vezes mais do que motoristas de automóveis em negócios locais, e que a infraestrutura cicloviária está relacionada a maiores vendas no varejo.

2. A bibicleta pode melhorar a saúde pública e a qualidade de vida

A bicicleta impacta positivamente a vida de todos por melhorar a qualidade do ar. Ciclistas regulares desfrutam dos benefícios de exercícios consistentes; eles têm 40% menos chances de contrair câncer, 40% menos chances de morrer prematuramente e 50% menos chances de ter doenças cardíacas. Um estudo mostrou um aumento de 15% no risco de fatalidade por Covid-19 em áreas com níveis mais altos de poluição do ar, provavelmente devido à pior saúde pulmonar. A bicicleta oferece uma forma de reduzir a poluição do ar local e aumentar a atividade física, o que melhora a resiliência individual.

3. Infraestrutura cicloviária pode ajudar as cidades a se tornar mais resilientes para choques futuros

O acesso à bicicleta já tem se mostrado fundamental para pessoas sob condições econômicas e de transporte restritas. O aumento da mobilidade oferecido pelas bicicletas durante apagões de energia, desastres naturais ou outras interrupções nos sistemas de transporte urbano é significativo, oferecendo uma área de serviço 15 vezes maior do que apenas caminhar.

A bicicleta como resposta a crises

A Holanda é um dos países mais bem-sucedidos do mundo no uso de bicicletas como meio de transporte, com mais de 37 mil quilômetros de ciclovias e mais bicicletas do que pessoas. Um quarto de todas as viagens são feitas de bicicleta. A Holanda também é um dos países mais seguros para ciclistas, com uma taxa de mortalidade anual de ciclistas de apenas 1,1 por 100 milhões de quilômetros pedalados (em comparação com 5,8 nos Estados Unidos).

Esse status não surgiu do nada. A mudança ocorreu em resposta a uma crise de segurança no trânsito, principalmente entre crianças, e ao embargo da Opep na década de 1970. O governo anunciou domingos sem carros em 1973, e o país lentamente começou a rever sua relação com os carros.

Em um caso mais recente, o ciclismo provou ser um modo de transporte resiliente e confiável durante o terremoto de 2017 na Cidade do México. Depois que a destruição de milhares de edifícios deixou muitas estradas inacessíveis a veículos motorizados, a cidade dependeu muito de bicicletas e de seu sistema de compartilhamento de bicicletas para os socorristas e voluntários que prestavam primeiros socorros e transportavam suprimentos.

A Covid-19 é outra crise que desafia as cidades de todos os lugares a pensar em como as redes de transporte urbano podem operar de maneira diferente. É hora das cidades experimentarem, usando suas ruas como campo de testes para mudanças. Por exemplo, o WRI Ross Center está trabalhando com a NUMO e a empresa de inteligência de negócios Populus para medir a melhoria do acesso a oportunidades de emprego e serviços essenciais, como hospitais e supermercados com redes recém-expandidas de ciclovias temporárias.

As quarentenas para enfrentar a Covid-19 podem revelar soluções com benefícios de longo prazo para o futuro das cidades, indicando o caminho para um transporte urbano mais resiliente, acessível e seguro. Uma cidade com mais bicicletas é uma cidade com pessoas mais saudáveis, ruas mais seguras, ar mais limpo e melhor conectividade.

por: Alejandro Schwedhelm, Wei Li, Lucas Harms e Claudia Adriazola-Steil

https://wribrasil.org.br/

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