Muitos ciclistas têm uma dúvida existencial durante o seu processo de treino. Neste artigo, vou matar uma das grandes dúvidas da maioria:
Eu conheço bem este dilema. No tempo em que eu competia, era tudo uma salganhada. Não sabia nada sobre treino, era tudo às 3 pancadas. Não planeava nada com um mínimo de antecedência, por vezes nem o percurso que ia fazer sabia previamente.
Isso por si só já contribuía para uma má gestão do tempo que cada treino deveria ter.
O volume de treino (ou se preferirem, o tempo total de treino) semanal, é uma das coisas mais importantes a gerir durante toda a nossa temporada!
Imaginem que estamos numa corrida de Fórmula 1. Os nossos pneus têm um determinado limite de desgaste. O que acontece se forçarmos demasiado? Os pneus vão gastar-se rapidamente, e isso obriga-nos a trocá-los na box, o que nos faz perder mais tempo, e por consequência perder a corrida.
O volume de treino semanal, nada mais é do que um pneu de um Fórmula 1. A sua gestão tem de ser feita da mesma forma. Não podemos começar a época já a queimar muito pneu, quando ainda temos muita temporada pela frente. É necessário fazer alguma contensão no momento da gestão do volume do treino.
Mas então coloca-se a questão essencial: Como é que eu devo gerir o volume de treino durante a temporada?
A resposta está nas próximas linhas. Mas por favor. Desliga todas as janelas, e concentra-te neste texto, podes ser surpreendido.
Eis os tópicos que te vão trazer as respostas:
- Acompanhar = Analisar as estatísticas
- Qual o número de horas de treino exatas que devo fazer por semana?
- Princípio #1: Menos quantidade e Melhor qualidade
- Princípio #2: Volume de competição vale mais do que volume de treino
- Dica para avançados: Volume realizado vs volume planeado
- Distribuir o volume de treino pelos diferentes períodos
Acompanhar = Analisar as estatísticas
Qual é a única forma de conseguir gerir o tempo semanal de treino durante uma temporada inteira (ou durante uma preparação específica para uma competição)?
A resposta está na “Recolha de informação”, ou se quisermos, análise estatística. Acompanhar os resultados, nada mais é do que recolher estatísticas daquilo que fizemos, e obter a informação necessária para tomar decisões na hora certa.
Eu aposto de olhos fechados que muitos de vocês que estão a ler este texto, têm os gadgets indicados para medir o tempo de treino, descarregam tudo no Strava ou nos sites indicados do vosso aparelho, e depois…
Bom, e depois não fazem nada, deixam para lá as informações acumuladas para ninguém as ver…
Amigos: parem imediatamente de cometer esse erro básico! A arte de bem gerir está na capacidade de análise da informação. Muitos de vocês já têm a informação, basta agora olhar atentamente para ela, e não ficar à espera que as respostas apareçam por magia!
E sim, isto também é válido para aqueles que não têm dispositivos que descarregam os dados do treino para o mundo online. Nesse caso, vocês teriam de utilizar uma folha excel e controlar esse e outros parâmetros.
Qualquer pessoa sabe criar uma tabela no excel e somar os tempos de treino por semana, sem ser nenhum expert. Por isso, não usem isso como desculpa. Trabalha com o que tens. Soma o tempo de treino que fizeste em cada dia, e depois separa as estatísticas por Volume de treino semanal (isto é, a soma do tempo total de todos os treinos daquela semana).
Ficou claro? Espero que sim. Se ficou alguma dúvida anota num papel para no final do artigo deixares nos comentários, combinado? ?
Por enquanto, continua a ler, pois vou mostrar-te porque é que tens estado a fazer a pergunta errada a ti próprio.
Qual o nº de horas exatas que devo fazer por semana?
Certamente muitos dos que clicaram para ler este artigo, estão à procura de uma fórmula mágica que dê para todos seguirem, estilo receita de bolo, com as quantidades certas de horas de treino que devem fazer por semana.
Mas será que essa é realmente a pergunta que deveriam estar a colocar neste momento?
Lamento desiludi-los, mas não funciona assim. Não há um valor de horas concreto a defenir por microciclo (semana de treino).
Vocês terão de encontrar esse valor, adequando o tempo de treino que têm disponível por semana, às provas que pretendem fazer.
Não me adianta estar aqui a dizer que devem fazer 14, 15, 18 ou 20 horas por semana, quando não é o número em si que conta, mas sim o aumento, manutenção, ou diminuição desse mesmo volume ao longo do tempo.
São as variações de mais ou menos horas (em consideração às vossas horas de treino atuais) que vão fazer a diferença.
Isso significa que quem faz uma média de 12h semanais sabe que terá de subir, manter, ou diminuir conforme o momento da época. E o mesmo acontece para quem só pode fazer 10h por semana, ou quem faz uma média de 18h semanais.
Esses valores vão ser determinados, invariavalmente pelo tempo que cada um tem disponível por semana para treinar. E sim, vai haver pessoas que só podem fazer rolos (obrigatoriamente isso dá menos tempo de treino), outros só podem treinar 2 x por semana, outros só podem treinar 4… Cada caso é um caso.
Mas para conseguirem chegar a esses valores, temos de voltar ao ponto de partida. É necessário medir! É necessário registar, é necessário acompanhar, para ver efetivamente quantas horas de treino fazemos por semana.
Agora, qual é a boa notícia aqui? Existem princípios basilares que todos devem cumprir (independentemente de quantas horas semanais de treino fazem) para ter sucesso na gestão do volume semanal de treino. E estes sim, funcionam para todos os ciclistas, desde os que têm menos tempo aos que têm mais tempo.
Se seguirem estas regras, garanto-vos que a última coisa com que se vão preocupar será quantas horas exatas têm de fazer nesta ou naquela semana.
Além desses princípios, eu vou também dar-vos um guia de como administrar corretamente o volume de treino, em função da fase da época em que estão. E isso é a chave do sucesso para o nosso carro de fórmula 1 não gastar os pneus demasiado cedo!
Gostou da matéria? Ela continua ainda essa semana…
Fonte: https://segredosdociclismo.com/